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Ex-presidente do STF também critica decisões monocráticas da Corte e o protagonismo individual de ministros
Apesar das sucessivas crises entre o Poder Executivo e as Forças Armadas, a relação se estabilizou. Quem afirma é um dos principais responsáveis por intermediar contatos entre eles, de janeiro para cá: Nelson Jobim, ex-presidente do Supremo Tribunal Federal (STF) e ex-ministro da Defesa — entrevistado na edição comemorativa de 60 anos da Revista Problemas Brasileiros, editada pela Federação do Comércio de Bens, Serviços e Turismo do Estado de São Paulo (FecomercioSP).

Jobim admitiu, no entanto, que os ataques às sedes do Executivo e do STF em Brasília, em 8 de janeiro, estremeceu a relação entre o governo e os militares. Na ocasião, o presidente Lula demitiu o então comandante do Exército, general Júlio César de Arruda, e colocou outro nome de mesma patente no cargo: Tomás Ribeiro Paiva. “[Hoje] Não vejo dificuldade nenhuma entre Lula e os militares. É uma relação boa. Existiu algo no início, mas as coisas estão compostas”, destaca Jobim, que também foi deputado constituinte e ministro da Justiça entre 1995 e 1997, no governo de Fernando Henrique Cardoso. “O atual comandante do Exército tem uma visão democrática, e os comandantes das outras Forças são extraordinários. Eles voltaram os militares para suas atividades especificas e necessárias”, completa o ex-ministro.

Na entrevista à PB, disponível em vídeo, além de avaliar o fenômeno da judicialização da política, o jurista — atualmente membro do Conselho de Administração do banco BTG Pactual — criticou o mecanismo de decisões monocráticas do STF. “Isso é importante quando há uma urgência absoluta, mas o conceito de urgência começou a se esvaziar. Então, se tiver de decidir com urgência mesmo, submeta-se imediatamente ao plenário.” Na visão do jurista, o Supremo não pode ser um ambiente de afirmações individuais. “Não é um local para formação de história própria”, diz.

Revista PB — 60 anos
Disponível para download no site da publicação, a edição comemorativa de 60 anos da revista traz também entrevista exclusiva com o antropólogo Roberto DaMatta. Ele explica por que entende que o Brasil permanece o mesmo país de seis décadas atrás, mesmo tendo atravessado transformações significativas no período.

A publicação apresenta ainda um ensaio inédito da historiadora Mary Del Priore sobre as mudanças no papel da mulher na sociedade. “As transformações nos padrões culturais e nos valores relativos ao papel social da mulher, intensificadas pelo impacto dos movimentos feministas e pela presença mais atuante dessa parcela da população nos espaços públicos, alteraram a constituição da identidade feminina, cada vez mais voltada ao trabalho produtivo”, escreve.

Dentre as reportagens, destaque para um balanço dos problemas estruturais superados, como a hiperinflação, e outros ainda presentes no horizonte cotidiano — como a ineficiência dos gastos públicos. Mais do que olhar para o passado, a edição aborda desafios da atualidade, como a corrida pela descarbonização do setor produtivo e adoção da agenda ESG no meio empresarial. “As transformações que moldaram e influenciaram o Brasil são apresentadas por meio de um extrato das mais de 450 edições veiculadas desde 1963, além de vozes que nos ajudam a entender o País, suas mazelas e virtudes”, afirma o editor da PB, Lucas Mota.

Criada em 1963 pela Federação do Comércio do Estado de São Paulo (atual FecomercioSP), a PB chega aos 60 anos de existência fiel ao propósito de sua criação: estimular o necessário debate à superação de mazelas seculares brasileiras. A trajetória da revista é marcada por amplo espaço para discussões acerca de questões sociais, econômicas e culturais. Livre de alinhamentos automáticos de qualquer natureza, a publicação acolheu, nas últimas décadas, a impressão de especialistas sem deixar de retratar os anônimos que vivenciam a realidade brasileira. Após um processo de reestruturações editorial e gráfica, a PB venceu o Prêmio Aberje na categoria Mídia Impressa, em 2019.

Sobre a FecomercioSP
Sobre a FecomercioSP Reúne líderes empresariais, especialistas e consultores para fomentar o desenvolvimento do empreendedorismo. Em conjunto com o governo, mobiliza-se pela desburocratização e pela modernização, desenvolve soluções, elabora pesquisas e disponibiliza conteúdo prático sobre as questões que impactam a vida do empreendedor. Representa 1,8 milhão de empresários, que respondem por quase 10% do Produto Interno Bruto (PIB) brasileiro e geram em torno de 10 milhões de empregos.

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