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Vaivém de medidas e declarações nos primeiros dias do novo governo têm minado a confiança dos investidores sobre quem será o protagonista na área econômica 

Após uma sequência de falas desencontradas de ministros do governo, que provocaram repercussão negativa no mercado, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) convocou para sexta-feira sua primeira reunião ministerial. O encontro está previsto para acontecer no Palácio do Planalto e envolverá os 37 titulares do primeiro escalão: o objetivo é fazer um freio de arrumação para “reafirmar” que propostas políticas ou de revisão de reformas só serão encaminhadas após “aprovação da Presidência”.

O recado foi dado nessa quarta-feira (4) pelo ministro da Casa Civil, Rui Costa (PT), após o novo ministro da Previdência, Carlos Lupi (PDT), dizer que irá discutir uma proposta de revisão da reforma da Previdência com sindicatos patronais, de empregados, de aposentados e governo. A afirmação gerou apreensão no mercado financeiro.

“Nenhuma revisão de reformas. Sexta-feira vamos organizar e reafirmar que qualquer proposta só será encaminhada, evidentemente, depois da aprovação do presidente da República. E qualquer proposta passará necessariamente pela Casa Civil, antes da sua análise”, disse Costa.
O ministro garantiu que “não há nenhuma proposta de revisão de reformas” sendo discutida neste momento, seja previdenciária ou trabalhista. Em seguida, o titular da Casa Civil lembrou que quem teve 60 milhões de votos foi o petista, e não os ministros dele. Além disso, acrescentou, quem obteve os 60 milhões de votos é que decide.

“Todo mundo tem direito a opinião, mas neste momento não há nenhuma proposta de revisão da reforma da Previdência”, argumentou ele.

O ministro foi questionado, então, se o ministro Carlos Lupi se precipitou em suas declarações, mas minimizou o episódio. “Não vou qualificar [a declaração]. As energias estão lá em cima, é momento de posse, alegria e entusiasmo”, concluiu.

Além da reunião ministerial inaugural de sexta-feira, outras iniciativas já estão no radar da Casa Civil. Segundo o Valor apurou, Rui Costa planeja ir a cada ministério da Esplanada a partir da semana que vem, quando terá reuniões individuais com os titulares das pastas. Tradicionalmente, os ministros deslocam-se até o Planalto para as reuniões. Costa faria um gesto de aproximação com cada um dos colegas e aproveitaria para tratar das prioridades do governo. Está prevista também uma reunião com governadores no dia 27.

A ministra do Planejamento, Simone Tebet (MDB), adotou tom parecido e também rechaçou qualquer debate sobre uma revisão da reforma da Previdência Social, promovida pelo governo de Jair Bolsonaro (PL). Na visão de Tebet, trata-se de uma posição isolada do ministro Carlos Lupi. Além disso, ela ponderou que Lula deve alinhar o discurso político da gestão petista, sobre todas as questões do governo, na reunião ministerial desta sexta-feira.

“Eu não vi em nenhum momento na campanha, e andei com o presidente Lula durante boa parte do segundo turno, essa agenda de uma possível revisão da reforma da Previdência sendo colocada, nem no programa de governo nem na fala do presidente”, disse Tebet, ao deixar a solenidade de posse de Marina Silva no Ministério do Meio Ambiente, realizada no Planalto.

Tebet relativizou ainda o ruído gerado pelo remanejamento da Agência Nacional de Águas (ANA) do Ministério das Cidades para a pasta do Meio Ambiente. A decisão levou insegurança jurídica, em especial em relação às normas aplicadas aos contratos de obras de saneamento.

“É importante entender que, neste primeiro momento, cada ministro está tentando se ajustar, e essa reunião ministerial vai deixar claro o posicionamento do presidente Lula”, disse Tebet. “Qualquer outro questionamento é decisão individual de cada ministro e, quando começar a andar a administração, todas essas coisas vão ser acomodadas.”

Ela tentou atribuir todas essas divergências ao desmembramento de ministérios. “A gente não tem a estrutura necessária para análise, para um diagnóstico da situação real do Brasil, e por isso sai uma fala ou outra desencontrada”. (Renan Truffi, Fabio Murakawa, Guilherme Pimenta e Caetano Tonet – Valor)