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O Jornal Pequeno traz, em sua edição desta terça-feira, 2, um editorial que traduz com precisão o que foi a greve dos rodoviários de São Luís, um movimento paredista que causou inúmeros transtornos aos ludovicenses. Nessa segunda, “com ares de ‘salvador da cidade’, o prefeito Eduardo Braide anunciou o fim do movimento paredista. E a greve termina, assim, entre os auto proclamados heróis e os vilões de sempre, com os mesmos subterfúgios e as mesmas velhas práticas de resolver questões dessa natureza “por baixo dos panos”, sem que ao menos fosse solicitada a presença do órgão fiscalizador do município que é a Câmara Municipal.

Veja a íntegra do editorial de hoje do JP:

Entre heróis e vilões

Com ares de vencedor e “salvador” da cidade, o prefeito Eduardo Braide utilizou as redes sociais para anunciar o fim da greve dos rodoviários, propalando a “vantagem” de não ter autorizado qualquer aumento de tarifa. No entanto, a mesma falta de transparência que tem permeado todo esse tempo a questão dos transportes públicos verificou-se agora, no desfecho do movimento que provocou tantos prejuízos à população maranhense. A começar pelo subsídio que teria sido prometido pela Prefeitura às empresas de transporte, algo em torno de quatro milhões/mês. Se o contrato não previa qualquer aumento neste mês, por que fazê-lo de forma transversa, escondendo valor e motivo para esse desembolso?

Mas há outros personagens se apresentando como “heróis”. O Sindicato das Empresas de Transportes, que representa o interesse dos empresários, informou em nota que iria garantir “o retorno da circulação da frota” ainda no dia 1º de novembro. E que o acordo firmado entre a entidade (SET), o sindicato dos empregados e a Prefeitura “pôs fim à greve”. Na realidade, um acordo polpudo para os empresários, minguado para os trabalhadores e altamente oneroso para os cofres públicos…

A nota do sindicato dos empresários não deixa por menos, e anunciou que “o acordo cumpriu o previsto em lei e atendeu, em parte, o que estava sendo pleiteado pelos envolvidos”. E acrescentou: “a Prefeitura de São Luís vai subsidiar o transporte público, visando minimizar os prejuízos mensais que vêm se acumulando há meses pelas empresas diante das sucessivas altas descontroladas dos combustíveis, em especial do diesel, custo maior do setor…”

No entanto, “o previsto em lei” é a revisão tarifária somente no mês de janeiro e não agora. Depois, subsidiar transporte público para minimizar prejuízos por conta da alta dos combustíveis não tem qualquer previsão fora do mês pactuado em contrato, quando então todos esses custos são revistos e projetados na tarifa paga pelos usuários. Por fim, coube aos trabalhadores a conformação com 5% de aumento salarial.

Com essas informações, os patrões determinaram o retorno dos ônibus vangloriando-se, todavia, por terem sido benevolentes em sua postura durante a greve.

Logo se vê que sobram heróis e faltam vilões nesse episódio, papel que, tudo indica, querem reservar à sofrida população de São Luís que tem de lidar, no dia a dia, com ônibus superlotados e depreciados, paradas sem frequência regular, solavancos pela buraqueira das ruas, o temor de assaltos e terminais sem urbanização e estrutura adequada de conservação e asseio.

Teria sido muito mais correto que tanto a Prefeitura quanto os empresários em primeiro lugar pedissem desculpas aos usuários do transporte público e à sociedade, de um modo geral, pelas manobras e manipulações que exaustivamente protagonizaram nestes últimos 13 dias. Depois, que explicassem em detalhes o que será feito e como será aplicada a dinheirama que a título de “subsídio” será repassada aos proprietários e concessionários do transporte público em nossa cidade.

A greve termina, assim, entre os auto proclamados heróis e os vilões de sempre, com os mesmos subterfúgios e as mesmas velhas práticas de resolver questões dessa natureza “por baixo dos panos”, sem que ao menos fosse solicitada a presença do órgão fiscalizador do município que, é a Câmara Municipal.